“Crianças aprendem mais rápido.
Crianças aprendem mais rápido e tem tempo livre pra tocar.
Crianças não têm preocupações, por isso, aprendem mais rápido.
Se eu não tivesse que trabalhar tanto, também conseguiria tocar.”
Se você é adulto, com certeza, já pensou ou falou uma das frases acima pra tentar justificar o fato de uma criança ter se desenvolvido melhor do que você, em algo que você resolveu aprender depois de adulto.
Tudo bem, concordo que crianças podem ter mais tempo livre e menos preocupações, mas será que é só por isso que elas se desenvolvem bem em algo que se propõem a fazer?
Leciono violão há mais de dez anos (estou ficando velho, eu sei…) e com o passar do tempo pude observar algumas diferenças entre crianças e adultos, quando o assunto é violão. Coisas que parecem sem importância, mas que, no decorrer do tempo, fazem uma enorme diferença no processo de aprendizagem.
A principal diferença entre adultos e crianças se dá no ponto de vista em relação às novas ‘coisas’. Enquanto o adulto vê um problema enorme e tenta mirabolar um plano infalível pra economizar seu valioso tempo, a criança só pensa que ela vai resolver o problema e parte pra prática.
Resolvi criar alguns tópicos falando sobre essas diferenças, crendo que possam ser úteis para todos os estudantes de violão.
Vamos lá!
Pressa? Aceite cada etapa do estudo
Pessoas adultas, geralmente, tem MUITA pressa pra tocar violão. Quando um novo adulto começa a fazer aulas comigo, eu pergunto sua idade e então, digo: você passou ‘X’ anos sem tocar violão. Não vai ser em uma, duas ou três semanas que você vai se transformar em um violonista completo.
Adultos adoram perguntar: sou iniciante, em quanto tempo eu vou conseguir tocar uma música?
Vamos com calma!
Quando uma criança começa a estudar violão, ela não está preocupada se na semana que vem ela fará o mesmo exercício. Ela não está preocupada se daqui a dois meses ela poderá tocar na escola pra todos os alunos e sair bem visto por todos. Ela não está preocupada se o dedo escorregou um pouquinho e ela ‘errou’ uma nota. Ela quer tocar! Simplesmente, tocar!
Pelo simples fato de não se preocupar demasiadamente com imposições ou com prazos que a própria mente (adulta) cria, a criança, na maioria dos casos, consegue se desenvolver melhor e mais rápido que um adulto. Engraçado, não?
É claro que a criança, às vezes, tem um lado competitivo bem à flor da pele, e quer logo tocar bem pra tocar melhor que o amigo. Podemos considerar isso como pressa? Sim, mas a criança não vê outra possibilidade senão a de que ela vai tocar aquilo bem. Enquanto isso, o adulto pensa: putz, tá difícil… acho que isso aqui não é pra mim.
Quanta diferença, não?!?
A criança entende que seu dedo 4 não consegue apertar a sexta corda, e não desiste por isso. Pelo contrário, ela trava uma empenhada batalha contra o problema que não deixa o seu dedo 4 chegar até a sexta corda. Essa luta só termina quando ela vence o problema. O adulto age diferente. Ele procura milhões de explicações para seu dedo não alcançar a sexta corda e passa mais tempo filosofando o problema – pensando que não nasceu pra tocar, ou mesmo, pensando que aquilo nunca mudará e que o melhor a fazer é desistir – do que estudando pra sanar a dificuldade.
Dica:
Não pense, toque! Não pense, estude! Não pense, se exercite!
Se for impossível não pensar, faça como a criança, pense que você vai tocar
melhor, afinal, não existe outra possibilidade!
Toque inúmeras vezes a mesma música – ou trecho
Crianças assistem inúmeras vezes um programa de TV que lhes agrada. Elas conhecem cada detalhe do seu personagem favorito, decoram as falas dos filmes que mais gostam, decoram e imitam cada trejeito do seu ídolo. Com a música, não podia ser diferente.
Quando uma criança ‘encasqueta’ com alguma música ou trecho musical, ela vai tocar aquilo O DIA INTEIRO durante a SEMANA INTEIRA! E se a música for muito legal, ela vai tocar O DIA INTEIRO, durante o MÊS INTEIRO!!!
Se a música ainda não está boa, ela vai dar um jeito de ficar boa.
As mães ficam loucas de tanto ouvir a mesma música e, quando levam os filhos pra aula de violão, geralmente dizem: pelo amor de Deus, passa outra música pra ele porque eu não aguento mais ouvir essa.
SEMPRE que a criança tem oportunidade, ela mostra a música pra alguém. Tio, tia, Vó, Vô, primo, prima, amigos da escola, professor de catequese, pastor da igreja e etc… TODO MUNDO VAI TER QUE OUVIR ELE TOCANDO A BENDITA MÚSICA QUE ELE GOSTA E APRENDEU NO VIOLÃO!
Agora vamos analisar o comportamento do adulto. Ele ‘aprende’ uma música em uma aula. Ele vai pra casa, pega o violão somente uma vez durante toda a semana – por 10 minutos. Volta pra aula na semana seguinte, toca a música dentro das suas possibilidades. O professor, então, corrige os defeitos e pede pra ele treinar de determinada forma durante mais uma semana. E então, o adulto diz: nossa, mais uma semana tocando isso. Por favor, me ensine outra música, não aguento mais essa. Não quero desanimar senão largo as aulas.
Quanta diferença entre adultos e crianças, não?!
Dica:
Quanto mais vezes você repetir um trecho ou mesmo uma música inteira corretamente, melhor você tocará.
A repetição faz parte do processo de aprendizado, aceite isto.
Pare de se cobrar tanto e aproveite mais
Começar o estudo de algo novo é fascinante. Adultos, ao invés de olhar para seus defeitos e impossibilidades temporárias, relembrem o tempo em que eram crianças e se fascinavam com o novo.
Estudar música não é fácil, mas também não é impossível. A dedicação diária opera verdadeiros milagres nos afazeres manuais; tocar um pouco todo dia o levará mais longe do que você imagina.
Aceite e aproveite cada etapa do aprendizado. Um dia, você não conseguia nem sentar e segurar o violão ao mesmo tempo, hoje você já faz isso e amanhã, fará pestanas. Pense assim. Cada coisa no seu tempo.
Não deixem que a mente crie barreiras que atrapalhem o seu aprendizado. Você vai tocar, se você estudar diariamente. Isso é fato.
Autor: Danilo Oliveira